O hábito da leitura

Eu não nasci amando ler, muito pelo contrário, nunca fui amante da literatura, ou melhor, eu nem sequer sabia o que era literatura. Desde bem pequena, ainda na pré-escola, lembro-me de estar folheando uma revistinha do Monteiro Lobato, olhando os personagens do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Alguns anos depois, aconteciam as visitas à biblioteca, onde você escolhia o seu livro, e depois fazia um trabalho a respeito dele. Não recebíamos instruções sobre como escolher a nossa próxima leitura, o livro continha apenas um durex colorido na lombar que informava a idade indicada. Dessa forma, eu sempre escolhia o livro da seguinte maneira: o mais fino, que possuía mais desenhos e quase nada de texto. Ler tornou-se algo tedioso, que eu fazia por obrigação. 

Outra coisa que fazia com que qualquer sintoma de amor aos livros morresse era o fato de que se eu não devolvesse o livro no dia certo, pagaria uma multa. Essa cobrança de multa era justificada com base em que a criança precisava ter responsabilidade. Acredito que isso era apenas para arrancar dinheiro dos meus pais, pois até para ter uma ficha na biblioteca, para poder começar a pegar os livros, tínhamos que pagar. Não acredito nessa história de “responsabilidade”, porque uma criança de 7 anos não tem isso, tampouco trabalha para ter dinheiro para pagar tais multas. Pagar por um livro que fizemos um empréstimo e o estragamos é plausível, multa por atraso, não. Diante desses acontecimentos, a biblioteca era o lugar que eu mais odiava. 

Quando eu pegava aqueles livros que não possuíam desenhos, tratava-os com desdém. Dizia que aquilo era a coisa mais chata, e que não fazia sentido ficar vendo “um monte de palavras”, então o colocava no lugar, substituindo-o por um completamente ilustrado. Ouvir alguém dizer que “livros são capazes de nos fazer viajar”, trazia-me a conclusão de que aquela pessoa era lunática. Ora, como eu iria viajar se lá estava eu, prendida num amontoado de páginas? Qual era o sentido de folhear aquelas milhares de letras? Para mim não tinha outra definição: loucura. 

Na infância, o único livro que eu lembro de ter lido e gostado foi “Robson Crusoé”, peguei um livro grande, que possuía várias outras histórias, mas me apaixonei exatamente pela que falava sobre o homem perdido na ilha. Li algumas das outras histórias daquele livro, mas a única que marcou foi essa. Entretanto, lembro-me também de ter lido no final de um livro, cujo nome eu não sei, uma lei sobre bibliotecas escolares, que dizia que elas deveriam conter no mínimo 100 livros. 

Apesar de sempre amar estudar, nunca amei os livros. Esse amor só foi florescer aos meus 12 anos de idade, quando eu me apaixonei pela astronomia, e queria ser astrônoma. Portanto, comecei a estudar, lendo diversos textos na internet. Eu me mudei de escola, e os trabalhos de literatura continuavam, mas dessa vez eu escolhia apenas livros de astronomia. Nesses trabalhos, tínhamos que desenhar a parte que mais gostamos da história, lá estava eu desenhando o meu planeta favorito – Júpiter. Na biblioteca, a prateleira do gênero “astronomia” era arrumada por mim, na ordem que eu queria ler. Eu era amiga da bibliotecária. Lá não havia essa história de “multa por atraso”, você tinha uma semana para ler o livro e devolvê-lo. 

Certo dia, eu resolvi sair um pouco da estante dos livros de astronomia, e escolher algo diferente. Achei um livro cuja capa possuía uma garota ruiva com um vestido azul. Ele não continha nenhuma ilustração, apenas letras, além de não ser fino. Por conseguinte, eu conheci o que era literatura, e percebi que eu estava equivocada em relação aos livros, ler não era uma atividade tediosa. Entretanto, nunca tive o incentivo necessário para querer abrir um livro e desfrutar das palavras. Sendo assim, descobri o segredo da leitura. Se eu gosto de princesas, um livro que contém realeza é capaz de me fascinar. Foi o que aconteceu com “A Seleção”, livro escrito por Kiera Cass, aquele livro da garota ruiva. Eu simplesmente me apaixonei por aquela história, e queria viver aquela sensação inúmeras vezes. 

Muito se engana quem acha que ler é ficar olhando para um mar de palavras, mas também é um clichê dizer que você irá viajar. No entanto, subestimamos a mente humana. Quando estamos lendo um livro, paramos de enxergá-lo e começamos a vislumbrar o que está escrito. Todas as palavras são transformadas em imagens e cenários, somos capazes de vivenciar um pouco daquilo. 

Dessa forma, para adquirir o hábito de leitura, é necessário ler livros do gênero que você gosta. Se você gosta de histórias de amor, um romance clichê te deixará mais feliz. Assim como eu gostava de astronomia, e lia livros sobre a temática. Por conseguinte, apaixonei-me de uma forma avassaladora pelos livros. O universo da literatura conquistou o meu coração, ao ponto de eu querer fazer parte daquele mundo, portanto fui de astronauta à escritora, e cá estou escrevendo para vocês.