Gato preto

Ah, meu gatinho preto… Sei que és considerado um ser repugnante, uma lástima para 99% das pessoas. Culpam-te pelas coisas não darem certo, tu és aquele que traz o azar. Se cruzar contigo pelo caminho, 13 anos malévolos me esperam. 

Sua cor é o grande problema – PRETO. Lembro-me quando te achei jogado naquela rua, e te peguei para mim. Coloquei-te numa caixinha, você miava, devia estar com medo. As pessoas te escutavam e pediam para verem o gatinho, quando eu abria a caixa, a primeira coisa que me diziam era “Cruz-credo, é preto”. 

Ah, meu gatinho preto… Não fique triste com o que os outros falam, tampouco, pinte-se de branquinho. Calma, pois irei contar-te um segredo: eu sempre sonhei em ter um gatinho, mas não qualquer gatinho, tinha que ser um gato preto. Ah! Eu já sonhava com as cenas. Mentalizava um pretinho deitado na minha cama, imaginava-me comprando uma coleira para ele, e ele ficando gatão. Já pensava nas fotinhos que postaria na internet para todos verem que eu tinha um gato preto. 

Eu sou aquele 1%, amo-te exatamente por seres como és. Tu não precisas ser branco para me agradar, pois amo principalmente a tua cor. O problema nunca esteve em ti, o desamor das pessoas não é a sua culpa. És um grande sonho para mim, tu completas o meu mundinho gótico. Tu nunca trouxe azar, sou completamente sortuda por te encontrar, pois tu tornaste a minha vida mais bela. Não deixe a maldade do mundo te corromper, pois sempre serás único aos olhos da pessoa certa. 

Sei que dentro de cada um de nós há um gato preto, que é julgado por ser quem é. Contudo você não pode aceitar o ódio das pessoas, porque és especial. Quem te ama de verdade, nunca irá querer que sejas diferente, pois tu sempre serás amado por ser quem realmente és. Dessa forma, não tente mudar-se para agradar os outros. Espalhe amor por aí, e afaste-se das pessoas ruins. 

08.09.2021

Às 3h da madrugada, acordei com a Mica miando pelo apartamento. Fui até a cozinha para conferir se ela não estava destruindo tudo por lá. Entretanto, estava tudo normal, então conjecturei que ela queria apenas comida. Eu ainda estava sonolenta, sendo assim, deitei-me novamente. 

A Mica nunca foi de ficar pertinho de mim, sempre respeitei o espaço dela. Contudo, estranhamente, nessa madrugada, no mesmo instante em que eu deitei, ela veio deitar-se comigo. Ela acomodou-se em cima das minhas pernas, e eu já estava tentando dormir. Após algum tempinho, ela saiu de cima das minhas pernas e deitou ao meu lado. Dessa forma, senti-me livre para mexer as minhas pernas, porém o problema começou aí – eu senti um molhado, e pensei: não acredito que ela fez xixi em cima de mim. Fui passar a mão nela, e tateando, ainda no escuro, senti uma “coisinha”. Levantei correndo para acender a luz. Não acreditei no que eu vi: a Mica deitada já com um gatinho mamando. 

Eu fiquei muito feliz com aquela cena. Nunca havia visto um gatinho recém-nascido, estava desnorteada. Pensei em tirá-los da minha cama, porém não sabia como pegar os dois juntos. Aproveitei para tirar algumas fotos e filmar, mas então suscitou um segundo filhote. Se eu não sabia como tirar 2 de cima da minha cama, imagina 3. Ela abriu a bolsa e o filhote já foi mamar. 

Às 4h, o terceiro filhote nasceu. Meu irmão acordou, então eu o chamei para olhar os gatinhos que nasceram. No entanto, um tempo depois, a Mica ainda não havia aberto a bolsa do terceiro filhote. Resolvi não interferir, pois dizem que a gata consegue fazer tudo sozinha. Às 5h, minha mãe acordou para levar meu irmão mais novo ao banheiro, portanto eu também contei o que tinha acontecido. Ela foi ver os filhotes e o terceiro ainda estava do mesmo jeito, e a gata estava deitada. Minha mãe disse que eu teria que estourar a bolsa, senão o gatinho morreria. Sendo assim, eu abri aquele “plástico” e cortei o cordão umbilical. Tentei entregar o gatinho para mamar na mãe, todavia ele não conseguia de forma alguma. Ele já estava ficando gelado, a solução foi usar uma seringa para alimentá-lo. Depois o entregamos para a Mica novamente.

Decidi tirá-los da minha cama, porém constatei que o cordão umbilical do segundo não havia sido rompido, então o cortei. Minha mãe passou a mão na barriga dela e disse que sentiu uma cabecinha, tentei sentir, mas não consegui. Tirei os gatinhos da minha cama, e limpei um pouco do sangue que estava nela. Às 6h descobri que minha mãe estava certa, pois veio o quarto gatinho. Nesse caso, também tive que abrir a bolsa e cortar o cordão umbilical. 

Peguei uma cobertinha e coloquei a Mica e os gatinhos para mamarem. O terceiro filhote ainda estava gelado, e não conseguia mamar, portanto o coloquei bem pertinho de outros, até que ele conseguiu. Assim, alimentei a Mica na posição que ela estava, e deixei ela aproveitar o momento. Ela se mostrou uma mamãe muito carinhosa, com os filhotes, e até mesmo conosco. 

No entanto, só após ajudar no parto da gatinha que eu fui tomar o meu banho. Eu achei que ela havia feito xixi em mim, entretanto descobri que na verdade ela foi me pedir ajuda. Ela deu à luz ao seu primeiro filhote bem em cima de mim. Dizem que a gata não gosta que fique perto dos filhotes, contudo se eu saio de perto dela, ela deixa os filhotinhos para ir atrás de mim. E se você colocar a mão nos filhotes que estão mamando, ela abraça a sua mão junto a eles.

Está sendo um momento mágico, entretanto, infelizmente, os gatinhos terão que encontrar um novo lar, onde farão diferença e felicidade na vida dos seus tutores. Mas enquanto isso não acontece, eu posso aproveitar os nenéns felinos.